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ESCRITORES: GUILHERME DE ALMEIDA

GUILHERME DE ALMEIDA: 1. Aquele nosso grande poeta parece-se com a água: é inodoro, incolor e insípido quando faz prosa. No verso melhora. Mas vem surgindo um Guilherme de Almeida, cujo Nós revela muita coisa. Parece-me poeta de verdade — não apenas burilador de versos como o F., ou parnasiano de miolo mole, essas venerandas relíquias do passado, Alberto, etc. E Bilac, que era a salvação, deu agora para rimar filosofia alheia e fazer patriotismo fardado. Alberto está um perfeito vieux beau. (...)
Guilherme é o balbucio duma corrente nova que acabar levando para o bueiro os lecomtistas de cabelos pintados com Juventude Alexandre. Tenho muita fé nesse menino de Almeida. São os dois de S. Paulo: Vicente de Carvalho, glória legítima mas já sem uma asa, e Guilherme, uma linda manhã. O espaço entre ambos é inter-estelar: é o Saco de Carvão da Via Lactea. ( 2:144-145 )
2. A característica da poesia de G. de A. reside na novidade. É possível fazer nuevo, em matéria de poesia, nesta Poetolândia? É. Guilherme o fez. E o fez, porque deixou de banda a imitação dos vates repimpados no pináculo da consagração, acadêmicos imortais por decreto com sanção penal aos incréus. E no assunto, na maneira, nas cambiantes, no ritmo, na rima, em tudo procura e consegue ser sempre ele próprio. Não ressaibam seus versos o marasmático parnasianismo greco-herediano, inçado de mármores heleno, gerebas de Atenas, marafonas de Corinto, pedras velhas da Acrópole, vagabundos-filósofos da âgora, nem bichos reais ou fabulosos, centauros e elefantes, pégasos e rinocerontes. O amor que os sonetos descantam é um amor fino, delicado, cheio de maciezas civilizadas. Não tresandam a cantáridas. Guilherme é um artista fino de um século e nunca vira fauno fumegante de satiríase de que se arredam desconfiados até os próprios leitores machos — como se representassem no papel certos poetas sorvados pela orgia, magérrimos e tisgüentos.
Não corre atrás da rima rara, nem anda com utensis, de ourives, a polir e repolir latões, a gessar plaquets, para dar aos seus Montanas um brilho fátuo que a ninguém ilude. A poesia coa-se-lhe para o verso fluente e puro, brotada dalma, sem recurso ao camartelo, à lima, ao buril, ao saca-rolhas para embrechados artificiosos. É em suma G. de. A. poeta como o foi Ricardo Gonçalves, e não joalheiro como ímpam por aí os malabaristas da forma que o não são integrais à moda velha de João de Deus, Byron e quantos fulgem com brilho eterno do Parnaso. Que delícia não é seguir com o pensamento os estádios do poema Guilhermino sem tropeçar uma só vez num tronco de coluna dórica, ou esbarrar com um centauro em desapoderado corcoveio empós de fugitiva ninfa! Como isto nos descansa da muita maçada que o Syllabus literário do momento nos força a adorar e beijar, impingindo como o zaimph da Salambó o que não passa de desbotada bandeira do Divino! ( 9:71-73 )