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ESCRITORES

1. Bilac perguntou ao Heitor de Morais por que motivo eu lhe fugia (isto é, por que o não incensava) e achou-me "esquisito". Acostumou-se o grande poeta ao coro perpétuo de "Ohs!" da rodinha do Estado. Os literatos célebres lembram-me os políticos que jamais caem, como o Rodrigues Alves. Estes espantam-se duma oposiçãozinha; aqueles não admitem essa coisa linda que é uma pequenina animadversão gratuita. Porque têm um nome do tamanho dum bonde amarelo e moram no andor da apoteose, acham inadmissível que um ignaro anônimo tenha a preguiça do rapaz‚ e por higiene fuja ao beija-mão. (2:144)
2. O que me increpas ao estilo é certo. Reconheço-o e é deliberadamente que sorvo as brutezas de Camilo. Esse galego soa a carne crua numa terra em que, a avaliar pelo "amarelão" do estilo comum, os escritores só se alimentam de marmelada branca. Em todas as literaturas eu procuro sempre o carnívoro — os Kiplings, os Menckens, os Gorkis — e ponho os alfenins de banda: Pierre Loti, Catulle Mendes e mais mimos de Vênus. Meu regime dietético é dos cloróticos: Ferro Bravais, bifes vermelhos, coisa bem azotadas. Evito farinhas. O fim em vista é mineralizar o Verbo para ver se não morro da tísica mesentérica do "estilo brasileiro", para o qual devo ter predisposição congenial: "Colhe hoje mais uma primavera no jardim risonho da sua preciosa existência, etc." O estilo nacional, morno e sorna, revê capilé com goma, xarope de melancia, mingau de araruta.
Camilo é o estilo estadulho. Dá porradas geniais! Kipling é o estilo White Label. Enebria depressa. Gorki é vodka. Derruba. E nós? Alencar é capilé com água Florida, bebido em "copo de leite". Macedo é capilé com canela, bebido em caneca de folha. Bernardo Guimarães é capilé com arruda, bebido em cuia. Coelho Neto é capilé com Grécia, bebido em ânfora de cabaça. Machado de Assis é capilé refinado, filtrado, puríssimo, bebido pela taça da cicuta de Sócrates. Afrânio é capilé com ácido fênico. Ruy é... Mentira! Ruy não é capilé. Euclides também não é — mas se fosse, seria capilé com geodésia. Grandes ou pequenos, bons ou maus, em todos nós o capilé perce; como transparecem em todos nós, socialmente, as taras vindas naquela nau de Tomé de Souza que nos abasteceu a estirpe com 400 degredados e 40 jesuítas. (2:162-163)
3. Recebi a sua de 14, com os retratos... que entusiasmo, meu Deus! remédio para curá-lo é um só: Chegar até aí, jantar com vocês na ponta do quebra-mar e... decepcioná-los! O melhor da festa é sempre, sempre, sempre, esperar por ela. Os escritores são grandes e interessantes vistos através de sua obras. De perto, nas pessoas meu Deus! São como bestas e vulgares! Eu tinha uma fã que perdia a fala cada vez que se encontrava comigo em qualquer parte. Resolvi curá-la. Mostrei-me como sou e ela... não só nunca mais perdeu a fala ao ver-me como nunca mais quis saber de mim. Com você, o Aramis e a turma lobatífera vai se dar o mesmo. Vocês almoçam-me ou jantam-me na ponta do quebra-mar e...
—_ "Que decepção, hein, Aramis? É um cretino como todos os outros", e no túmulo desse Lobato idealizado, que tanto te entusiasma, depositarás a florzinha amarela da desilusão! (4:238)
4. Em matéria de escritores, temo-los de duas categorias: a dos necessários e a dos inúteis. Uns revelam o país a si próprio, bem vendo, bem sentindo e bem reproduzindo os estados d'alma e de corpo da brasileira coisa e da brasileira gente; outros tomam o tempo dos ocupados com uma arte pela arte singularmente pulha.
Uns constroem deveras uma literatura: fixação exata do momento étnico, cósmico e mental. Outros bizantinizam. Cronistas, às vezes brilhantes do omini re, a varridela saneadora do tempo não deixará da agitação desses escritores uma isca sequer. (8:48)
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Ver: LITERATURA BRASILEIRA 1 (10:3-9)
POETISA (6:187-188)
ROMANCE NO BRASIL (5:47-51)
ROMANCISTAS 1 (7:228)