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CARICATURA NO BRASIL

Numa história geral da caricatura a história da nossa terá meia página, se tanto. E explica-se a mingua. Enquanto colônia, era o Brasil uma espécie de ilha da Sapucaia de Portugal. Despejavam cá quanto elemento antissocial punha-se lá a infringir as Ordenações do Reino. E como o escravo indígena emperrasse no eito, para aqui foi canalizada de África uma pretalhada inextinguível. Até a vinda de D. João o Brasil não passava de índio e mataréu no interior e senhores, feitores e escravos nos núcleos de povoamento da costa, muito afastados entre si e rarefeitos. Em toda essa fase o Brasil não dá de si nenhum bruxoleio de arte.
E assim vai até que um tranco de Napoleão dá com o rei de Portugal para cima do Rio de Janeiro. Apesar da pressa com que arrumou as malas, D. João VI trouxe todos os ingredientes para uma boa implantação aqui: fidalgos de orgulhosa prosápia, nobres matronas, almotacés, estribeiros-mores, açafatas da rainha, vícios de bom tom, pitadas de arte e ciência e mais ingredientes básicos duma monarquia preposta a pegar de galho.
Infelizmente nenhum caricaturista acompanhou o transporte de tanta caricatura para as terras do Novo Mundo. Insanável lacuna! Que maravilhosos temas a época fornecia!...(...)
Se hoje temos Voltolino, Yantok e tantos mais e sobretudo esse J. Carlos que encheu toda uma época e pôs a arte da caricatura no Brasil a par da dos velhos países cultos, devemo-lo à grande idéia d'O Malho, de satisfazer as ingenuidades estéticas do poviléu.
Mas há uma coisa que impede o crescimento e a plena floração da nossa caricatura: a restrição cada vez maior da liberdade de crítica ao governo. E sem liberdade da mais ampla a caricatura fenece como a gramínea que tem sobre si um tijolo. Perde a clorofila. Descora.
Dá um esparguinho branco...(16:11...21)