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DIÁRIO

Que te direi do teu Diário que já não tenha dito? Devorei-o, coisa de começar e não largar, e a impressão foi a dum filme que alternasse fotografias de idéias com fotomontagens de cenas. Diz você na carta que o mandou como reflexo do teu Eu atual, e vejo que muito já se distanciou daquele Rangel amoroso e em excesso descritivo dos anteriores volumes. Agora sim, está como compreendo um Diário: repositório de sensações de primeira mão, dos tais pensamentinhos que nos passam pela cabeça como relâmpagos, de idéias nascidas como em geração espontânea, insubsistentes, de vida curta como a dos fogos fátuos; poeira luminosa, pó de diamante da inconsciente e ininterrupta lapidação da nossa inteligência. Mil coisinhas enfim que se perderiam se não fosse a patena dum diário a recolhê-las. Perguntas em francês o por que da coisa e afirmas que Robinson não cuidaria disso. Chi lo sa? O maior prazer do nosso egoísmo é gozar a sensação da nossa personalidade — pelos ouvidos, ouvindo-nos — pelos olhos, vendo-nos — pela inteligência, introspeccionando-nos. O resto do mundo só nos importa pelos acréscimos, ou o "emprosperamento" que traz para o nosso Eu. Porque, afinal de contas, somos cada um o centro do Universo. Ora, um Diário conserva a imagem do nosso Eu no passado, fomenta-nos portanto os instintos do egoísmo, desse modo redobrando a sensação dos eus passados, isto é, das nossas fases evolutivas. Se um espelho comum já nos dá prazer, que valor não é um espelho retrospectivo que nos dê a cara dia a dia, pelo espaço de anos! O Diário é esse retrospecto da nossa inteligência. Por isso creio que, sendo como somos, ainda que fôssemos Robinsons escreveríamos Diários. (1:130-131)
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Ver: IDÉIAS (Registro de) (1:114-115)