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http://www.clubedeautores.com.br/book/33715--DICIONARIO_DA_TEORIA_LITERARIA_E_ESTETICA_DE_MONTEIRO_LOBATO





EDIÇÃO

1. Minha idéia é que quem se edita por conta própria faz uma coisa anti-natural — como entre as mulheres o parir pela barriga, na cesariana. Mas, seja lá como for, proponho estes pontos: 1) Não haver pressa; 2) Apurarmos a forma, de modo que os críticos exigentes não descubram nem uma lêndia de pronome mal colocado; 3) Ler um a produção do outro, comentar, criticar, sugerir, vetar; 4) As duas partes conformar-se-ão com as sentenças, mas ficam com o direito de rejeitar o veto; 5) A fatura material do livro será perfeita; prosa boa impressa em papel de embrulho vira carne seca da fedorenta; champanha em caneca de lata vira zurrapa. (1:242-243)
2. Anda o Nogueira com livro em Portugal! Há de ser o Venerando, história já minha conhecida. Nogueira tem preocupações cômicas — a qualidade do papel, o tamanho das margens, ilustrações, como se um livro valesse por outra coisa que não o miolo. Quem procura essas galantezas estranhas à literatura não mostra confiança no que escreve. É procurar muletas. Veja se um Machado, um Anatole, um Euclides, lá vão pensar nessas bobagenzinhas. (1:327)
3. Veja você como para o mundo tem peso um nome que assina artigos no jornal. A gente passa de servo da gleba à classe dos senhores. O "senhor" é o homem armado, que pode desta ou daquela maneira tornar-se ofensivo. A grande desgraça na vida é ser inofensivo, Rangel. Veja as minhocas. Por essas e outras, não concordo com o teu afastamento do jornal. Para quem pretende vir com livro, a exposição periódica do nomezinho equivale aos bons anúncios das casas de comércio — e em vez de pagarmos aos jornais pela publicação dos nossos anúncios, eles nos pagam — ou prometem pagar. (2:20-21)
4. A vantagem de dar a Vida em revista é poderes tê-la em forma impressa para o "passar a ferro" final. Em manuscrito a gente não vê totalmente um livro. (2:102)
5. É indispensável vires a público em livro, porque o livro é como o germe que faz a palma, a chuca que faz o mar. (2:180)
6. O meu segredo foi continuamente e sempre o mesmo editor. O Otales editou-me desde o começo até a vinda da "Brasiliense". Tens de fixar-te num editor aí, e ir ganhando-lhe a confiança. Assegurado o editor, nada mais tens que fazer senão ir botando ovos literários como uma boa galinha Leghorn; todos os anos, um ou dois ovinhos — e mantendo sempre reeditados os ovos anteriores.(...)
Para conseguir uma casa o pedreiro tem que assentar muitos tijolos; para criar uma renda de direitos autorais o escritor tem de escrever muitos livros e cuidar muito deles, e mantê-los sempre editados, etc. Com um livro, ou dois, ou três, um escritor não arranja a vida, como com um tijolo, ou dois ou três, o pedreiro não constrói uma casa. Mas com 30, 40, 50 livros um escritor cria uma torneira donde manará money durante toda a sua vida e a dos filhos. Eu, por exemplo, disponho de 30 torneiras na "Brasiliense" e 25 aqui - total 55, todas pingando água sem parar. Não basta fazer o livro; é preciso editá-lo; e depois, reeditá-lo sempre; só assim um autor cria um manancial perene. (4:210-212)
7. Escolha um bom editor e fique com nele toda a vida. Não ande pulando de um para outro como um saltamontes com formicida no rabo. Bom autor faz o bom editor - o editor amigo. Para fazer um bom editor várias coisas são precisas, e entre elas a mais absoluta correção nas contas. Nunca sacar dinheiro antecipadamente. Autor que faz isto, perde logo o editor, porque não há nenhum que tolere semelhante prática. (4:214)
8. Faze o que fiz. Vira-te editor, e então terás sempre editor em casa absolutamente conforme aos teus desejos e caprichos. Foi como fiz em 1917 e deu certo. E como faço ainda hoje. Entrei como sócio para a Editora Brasiliense e tirei meus livros do Octales; e agora vou na Argentina estudar o lançamento da Editora Continental, com muitos elementos dinheirosos daqui. Por quê? Para também lá ter editor como quero para os meus livros. Era o que eu te aconselharia, meu caro Flávio, a você um sol novo que anunciei mas ainda sempre impedido de soltar raios. (12:71)
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Ver: LÍNGUA 1 (1:248-249)