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ADJETIVOS

A observação sobre os teus adjetivos pode ser generalizada. Apliquei-a aos teus porque me veio enquanto te lia. Nos grandes mestres o adjetivo é escasso e sóbrio — vai abundando progressivamente á proporção que descemos a escada dos valores. Um jornalistazinho municipal, coitado, usa mais adjetivos no estilo do que Pilogênio na caspa.
Eles pingam adjetivos. Contei os adjetivos em Montaigne, Renan e Gorki. Sóbrios. Shakespeare, quando quer pintar um cenário (um maravilhoso cenário Shakespiriano!), diz, seco: "Uma rua". O Macuco diria: "Uma rua estreita, clara, poeirenta, movimentada, etc". O Macuco espalhou mais adjetivos pelo Belenzinho do que gonococus - e nunca houve uma espingarda que o abatesse!...
Tolstoi só usa o adjetivo quando incisivamente qualifica ou determina o substantivo. Tenho que o maior mal da nossa literatura é o "avança" do adjetivo. Mal surge um pobre substantivo na frase, vinte adjetivos lançam-se sobre ele e ficam "encostados", como os encostados das repartições públicas. A moda de hoje é o adjetivo eciano. Aquele "cigarro lânguido" do Eça fez mais mal à nossa literatura do que a filoxera aos vinhedos da Champagne.
Isto me veio ao ler em teu Diário a "mancha" sobre o lampião da sala. Se expulsasses dali todos os adjetivos encostados, aquilo ganharia oitenta por cento. (1:106-107)
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Ver: ESCREVER 5 (2:51-52)
ESCRITORES: CAMILO CASTELO BRANCO 3 (2:52-54)