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LITERATURA

1. Porque literatura é uma atitude – é nossa atitude diante desse monstro chamado Público, para o qual o respeito humano nos manda mentir com elegância, arte, pronomes no lugar e sem um só verbo que discorde do sujeito. (1:17)
2. Literatura é cachaça. Vicia. A gente começa com um cálice e acaba pau d’água de cadeia. (1:62)
3. Em literatura a condição básica é haver beleza, e que beleza ali existe? Numa negra sórdida, na vida imunda que leva, no “amor” que inspira, nas “doenças vergonhosas” que espalha, nos sargentos que enrabicha – onde qualquer resquício da beleza salvadora? Em nome da Arte veto esse conto e lamento que F. seja suscetível do estado de ânimo necessário à produção de tal coisa. (1:260)
4. Foi-se o tempo da literatura. Não há coragem, nem miolo, para esse delicioso jogo de idéias com mais ou menos estilo. (12:46)
5. – Que história essa de gato “fazendo sonetos à Lua” ? – interpelou a menina. – A senhora está ficando muito “literária”, vovó...
Dona Benta riu-se.
- Sim, minha filha. Apesar do meu desamor pela “literatura”, às vezes faço alguma. Isso aí é uma “imagem literária”. A Lua é um astro poético, e quando um gatinho anda miando pelo telhado, um poeta pode dizer que ele está fazendo sonetos à Lua. É uma bobagenzinha poética.
- “Desamor pela literatura”, vovó? – estranhou Pedrinho. – Então a senhora desama a literatura?
Dona Benta suspirou.
- Meu filho, há duas espécies de literatura, uma entre aspas e outra sem aspas. Eu gosto desta e detesto aquela. A literatura sem aspas é a dos grandes livros; e a com aspas é a dos livros que não valem nada. Se eu digo: “Estava uma linda manhã de céu azul”, estou fazendo literatura sem aspas, da boa. Mas se eu digo: Estava uma gloriosa manhã de céu americanamente azul”, eu faço “literatura” da aspada – da que merece pau.
- Compreendo, vovó – disse a menina -, e sei dum exemplo ainda melhor. No dia dos anos da Candoca o jornal da vila trouxe uma notícia assim: “Colhe hoje mais uma violeta no jardim da sua preciosa existência a gentil Senhorita Candoca de Moura, ebúrneo ornamento da sociedade itaoquense”. Isto me parece literatura com dez aspas.
- E é, minha filha. É da que pede pau... (28:190-191)
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Ver: CARTA 1 ( 1:17-18 )
ESCRITORES: MARIA JOSÉ DUPRÉ (2:338-340)
ROMANCE NO BRASIL (5:47-51)