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LIVRO

1. Feliz circunstância me permitiu examinar em provas um livro que é um livro. Para que um livro seja um livro não basta possuir a forma de livro, nem rechear-se de frases compostas segundo a arte de bem escrever, e impressas de acordo com a boa técnica dos elzevires.
Há que dizer algo novo, encerrar uma grande idéia, desenvolvida ou em gérmen, dessas que valem por empuxões de bom pulso na sonolenta carreira da rotina. (6:138)
2. Toda a vida, em todos os países, houve os escritores que escreveram coisas vendáveis e escritores que escreveram coisas invendáveis. O livro é um artigo, uma mercadoria como outra qualquer. Não há diferença entre um livro e um artigo qualquer de alimentação. Se o artigo qualquer de alimentação não se vende é porque ele é de má qualidade, tá podre, estragado, etc... Se o livro não se vende é porque não presta. Isto, em português claro. Toda vida eu vi os bons livros serem muito bem vendidos e vi uma natural repulsa do público pelo livro mau. Isso foi assim em todos os tempos e em todos os países. Hoje, os bons livros vendem-se muito bem, vendem-se como sempre e diante dos maus o público faz suas reservas, suas caretas, recusa, não compra. Eu acho que esta situação é uma situação de perfeita normalidade e está muito bem que seja assim. Meu desejo é para que os bons livros se vendam e não haja nem sequer comprador para um mau livro, porque a pior peste que há no mundo é um livro mau – a gente perde até o tempo da leitura. (9:346-347)
3. O primeiro livro é tudo. Tem de ser o melhor de que somos capazes, porque não sendo assim o mundo não dará atenção aos demais, por mais valor que tenham. Em regra o mundo só toma conhecimento de um livro de cada autor – e muito naturalmente do primeiro. Nem pode ser de outra maneira, porque não há tempo, e muito grato deve ficar o autor se o seu primeiro filho recebe registro no rol das Coisas Legíveis. (...) Os demais livros que um autor faz é para ganhar dinheiro, satisfazer-se a si próprio, etc. Não o ajudam em nada na construção do seu nome. Tenho a impressão de que o público os compra por vício – mas não os lê. Vi comigo que morrerei o homem dos Urupês. O resto que fiz não foi levado em conta – ninguém leu. Foram comprados mas não lidos. De modo que o sábio é aparecer sem pressa com um livro-tanque – que entre por esmagamento pela inércia do público adentro. E depois, moita. Quem sabe dos duzentos livros de Prèvost? E todos lêem Manon. Quem sabe dos mil livros de Foe? E quem não lê Robinson? (22:56)
4. A cultura se faz por meio do livro. O livro se faz com papel. Carregar de taxas o papel é asfixiar o livro. Asfixiar o livro é matar a cultura. (14:165)
Um país se faz com homens e livros. Minha visita aos monumentos de George Washington e Lincoln provou-me que a América tinha homens. Ter homens, para um país, é ter Washingtons e Lincolns, forças tão marcantes que sobre sua obra não pode a morte. Viva quanto viver a América, seus dois heróis viverão com ela, dia a dia mais sublimados. Já nem mais são homens hoje, decênios passados do desaparecimento da cena, mais semi-deuses. Crescem sempre. Divinizam-se. Em torno destas pilastras a América se cristalizou. Nas maiores crises morais nunca lhe faltará o apoio do general que não mentia e do lenhador que impediu a destruição da obra do general.
Com homens e livros. Nos livros está fixada toda a experiência humana. É por meio deles que os avanços do espírito se perpetuam. Um livro é uma ponta de fio que diz: “Aqui parei; toma-me e continua, leitor”. “Platão pensou até aqui: toma o fio do seu pensamento e continua, Spinoza”.
Mr. Slang certa vez me disse que o homem só tinha duas criações: a invenção do alfabeto e a descoberta do fogo. O alfabeto permitiu o acúmulo da experiência individual; o fogo abriu caminho para a dominação da natureza. (15:45-46)
6. – Essa é boa! É de primeira! Parece até que a burrice de Emília pegou em você, Pedrinho! Vovó sabe de tudo porque lê nos livros e é nos livros que está a ciência de tudo. Vovó sabe mais coisas do mar, sem nunca ter visto o mar, do que este Senhor Caramujo que nele nasceu e mora. Quer ver? (19:102)
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Ver: LITERATURA INFANTIL-JUVENIL 8 ( 9:249-256 )