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POETISA

A poetisa de hoje emparelhou-se com o poeta moderno. E assim como este perdeu a cabeleira, a caspa, as atitudes fatais, e veste-se, come, bebe e lava-se como todo mundo, assim também a poetisa desfatalizou-se e não há mais discerni-la à janela pelo negror das olheiras, nem à noite pelo modo canino de ferrar o olho na lua.
Compuseram-se. Alçapremaram-se a nível superior. Emparelharam-se às demais criaturas finas de elegância mental, distinção e sobriedade de maneiras.
Quem lê uma Francisca Júlia tem a impressão duma eleita da linha, no caráter e na mentalidade.
Gilka Machado dá a sensação nobre de criatura afeita a partir cristais com martelo de ouro.
Albertina Berta documenta a capacidade feminina para vôos elegantes sobre cumeadas alpestres onde esvoaçam os d’Annunzios.
E agora Maria Eugênia Celso revela um livro a maneira galharda com que neta e filha podem empunhar um cetro de nobreza moral legado pelo avô, e uma pena refulgente que ainda maneja o pai.
Nem resquício da poetisa à antiga, aves cômicas que “poisavam gorgeando nos periódicos do tempo”. Mas a criatura de fina sensibilidade e larga cultura, de nobilíssimo caráter e suave equilíbrio, à qual apraz traduzir em versos os seus mais sutis estados d’alma. (6:187-188)